sábado, 21 de abril de 2012

O Tropeço do Rei



A foto é de um mamífero adulto morto, que vivia nas savanas de Botswana. Nesse recanto dos deuses surge um homem travestido de Rei.
Nada disso saberíamos se Sua Majestade, como qualquer outro ser humano, não tivesse tropeçado nos degraus e fraturado uma costela.
O outro lado da foto, Juan Carlos Rei da Espanha vestido à caçador das colônias empunhando seu rifle que daria para derrubar o Edifício Martinelli.
Assessorado pelos herdeiros do colonialismo, pobres africanos mal tratados em todas as dimensões do existir, conduziam Sua Majestade ao local do extermínio.
O céu é africano, o solo cheira sagrado, os animais vivem em paz com exceção do animal humano que mata por matar.
Qual o prazer em assassinar um elefante que pasta na relva, comendo brotos das árvores? 
Sua Majestade com olhar nobre-arrogante cavalga em Land Roover em direção à carnificina. Dom Quixote tentaria impedi-lo.
O elefante continuou em sua jornada elegante de viver. A comitiva chegou em vários jipes fizeram um círculo ao redor do inocente animal. Os assassinos olhavam para o futuro cadáver com olhares que apenas os frios de sentimento podem olhar. Mas, e o Rei o que pensava?
O Rei não pensava.. O Rei agia em nome dos que podem, sejam esses ditadores, papas, ou reis. Querer é poder.
O Rei desce do Land Roover e olha para os olhos do elefante.
O elefante reconheceu no Rei apenas como mais um colega de biosfera que também estava sobrevivendo.
Com certeza se o elefante o tivesse reconhecido como Majestade teria tentado fugir.
O elefante com sua tromba arrancou vegetação rasteira e a levou a boca, mastigou calmamente desfrutando da energia da vida. Mal sabia o condenado que se alimentava pela última vez.
O Rei o condenara em nome de um desejo homicida.
Carregaram o enorme rifle para o Rei. Aliás, onde já se viu o Rei carregar o próprio rifle?
O pacifico saudável elefante de nossas imagens infantis continuava a viver. O Rei Juan Carlos não queria que ele continuasse a viver.
Levaram o Rei para um local apropriado para executar sua missão facínora.
Alguns africanos oravam a Ossain para que permitisse que o bom animal continuasse a viver. Oravam em silencio, da língua para dentro rezavam.
Rei não reza, não pede, ordena.
Armaram e engatilharam o rifle, e o entregaram ao Rei que acertou o lugar da mira.
Mirou no meio dos olhinhos do elefante que olharam para ele com a candura que somente os elefantes sabem olhar.
O Rei inspirou, segurou a respiração, conforme aprendera nas aulas de tiro da corte espanhola.
Depois de uma espera real apertou o gatilho.
A bala arrebentou o cérebro do elefante, fazendo com que dobrasse os joelhos e caísse lento com o que restou da cabeça em direção à árvore que o acolheu.
O silencio se fez, os pássaros compreenderam, os leopardos se ausentaram, os macacos fugiram, os hipopótamos naufragaram. Havia um homicida no local, fugiram, fugiram, fugiram!
Silencio desconstruído pelos aplausos dos que receberam trinta mil dólares de Sua Majestade por uma vida.
Depois a fotografia imortal para quem? Empunhando o rifle o valente Rei matador tem seu momento sórdido eternizado.
Ao lado da foto do Rei e do inocente animal morto outras fotos mostravam os quase trinta por cento da população espanhola desempregada...


Texto do Dr Carlos R Briganti (Psicoterapeuta)


Tome Cuidado Você esta sendo Observado

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